Da prefeitura do Rio à Câmara federal: entenda as históricas ligações políticas da família Brazão

O ano era de 1996 quando o comerciante Domingos Brazão, proprietário de posto de um posto de gasolina em Jacarepaguá e um ferro-velho às margens da Via Dutra, resolveu concorrer a uma vaga eletiva pela primeira vez pelo Partido Liberal (PL), migrando posteriormente para o PTB e MDB. O cargo de vereador foi logo deixado de lado, dois anos depois, quando conseguiu se eleger para a Alerj, Casa Legislativa que foi seu ambiente de trabalho entre 1999 e 2015 — ano que foi aprovado como conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ).

Preso neste domingo como possível mandante da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada em março de 2018, Domingos tem quase 30 anos de tradição na política fluminense. Primeiro da família a ingressar no poder Legislativo, o clã Brazão hoje conta com outros dois integrantes e planeja lançar seu quarto nome nas eleições municipais deste ano. Historicamente, os representantes da família são eleitos com expressivas votações já na primeira tentativa.

A entrada de seus irmãos mais velhos na política ocorreu após sua nomeação ao TCE. Chiquinho exerceu o cargo de secretário municipal de Ação Comunitária da prefeitura do Rio até fevereiro deste ano, quando pediu exoneração após surgirem os primeiros rumores sobre sua possível participação no crime. Ele foi eleito vereador em 2016. Já em 2018, foi o primeiro Brazão a conseguir um mandato na Câmara dos Deputados, em Brasília.

Neste mesmo ano, o primogênito da família, Pedro Brazão, foi eleito deputado estadual. Para as eleições municipais, o filho de Domingos, Kaio Brazão, será um dos principais candidatos à vereador do Republicanos no Rio. Nas redes sociais, o jovem de 22 anos já compartilha postagens com o pai e os tios com viés político.

Nos corredores da Alerj, um possível envolvimento de Brazão na morte de Marielle é minimizado. Deputados alegam que o conselheiro nutria um bom relacionamento com todos na Casa, incluindo Marcelo Freixo (PT). Neste contexto, estranham a suspeição que paira ao redor de seu nome.

Amigo de Cunha e campanha para Dilma

Típicos integrantes do chamado Centrão, a família Brazão nunca se restringiu à ideologia política. Hoje com o irmão na gestão de Eduardo Paes (PSD), Domingos já teve aliados políticos como o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), e chegou a fazer campanha para Dilma Rousseff (PT) em sua reeleição.

Ao lado de Cunha, o então deputado fez duas campanhas eleitorais — a de 2010 e de 2014. Nas ocasiões, os dois chegaram a trocar elogios nas redes sociais e a se referir um ao outro como “amigo”.

Apesar do aceno à petista, Chiquinho esteve em carreatas com Jair Bolsonaro (PL) em 2022. “Pelo bem do país fizemos uma bela carreata”, escreveu o atual secretário em seu perfil no X (antigo Twitter) dias antes do primeiro turno.

Histórico de escândalos

Muito antes de ser citado na investigação da morte de Marielle, que hoje a delação premiada aguarda homologação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), Domingos Brazão se tornou alvo de seu primeiro escândalo ao ter seu mandato cassado na Alerj pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ). A condenação, dada à época, por suposta compra de votos nas eleições de 2010, foi derrubada dias depois pelo então ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Ricardo Lewandowski.

No ano seguinte, quase perdeu o mandato novamente por manter um centro social durante a atividade política, o que foi considerado abuso de poder econômico por parte do Ministério Público. Domingos alegou atuar enquanto colaborador e teve sua justificativa acatada.

Com 16 anos de Alerj, sua indicação ao TCE-RJ teve apoio maciço. Na ocasião, apenas a bancada do PSOL e Marcos Abrahão foram contrários. Abrahão também concorria à vaga de conselheiro e se deu o seu único voto.

Em 2017, durante a operação Lava-Jato, foi preso por suspeita de ter participado de um esquema de desvio de verbas públicas. Quatro anos depois, em 2021, foi reconduzido ao cargo de conselheiro.

Prisão por homicídio

Em meados de 2014, quando protagonizava uma disputa política com Cidinha Campos (PDT), Brazão foi acusado de ser bandido, ladrão e, inclusive, assassino. Na ocasião, o então parlamentar admitiu já ter matado uma pessoa, mas disse que foi absolvido após ter sido enquadrado na legítima defesa.

— Matei, sim, uma pessoa. Mas isso tem mais de 30 anos, quando eu tinha 22 anos. Foi um marginal que tinha ido à minha rua, na minha casa, no dia do meu aniversário, afrontar a mim e a minha família. A Justiça me deu razão — afirmou.

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