DJ preso diz que viu mensagens de autoridades em celular de amigo, afirma advogado

Um dos presos pela Polícia Federal nesta terça (23) sob suspeita de ter hackeado celulares como o do ministro Sergio Moro, o DJ Gustavo Henrique Elias Santos, 28, disse a seu advogado que um amigo também preso mostrou a ele mensagens de autoridades obtidas ilicitamente.

Elias Santos e sua mulher, Suelen Oliveira, também presa, negaram ao advogado qualquer participação no ataque hacker a celulares de autoridades, como de Moro e do procurador Deltan Dallagnol. O amigo preso que teria mostrado o celular a ele é Walter Delgatti Neto.

“Não existe nenhuma dúvida quanto a existência de um ataque hacker criminoso”, afirmou o ministro da Justiça Sergio Moro no dia 2 de junho na Câmara dos Deputados. A sessão foi marcada para que o ex-juiz explicasse as mensagens divulgadas pelo site The Intercept Pedro Ladeira/Folhapress

“O próprio Vermelho [apelido de Delgatti Neto] mostrou algumas coisas para ele [Santos], e ele assustou e falou: ‘Meu, cuidado com isso aí porque pode dar problema’. Na verdade, ele não acreditou naquilo, mas, pelo que foi narrado, mostraram algo para ele a respeito disso [invasão do celular de Moro]”, disse o advogado Ariovaldo Moreira.

“Ele [Elias Santos] vai contar exatamente o que aconteceu para a autoridade policial”, disse o advogado.

O depoimento do casal Elias Santos e Suelen está previsto para a tarde desta quarta (24). Os dois estão detidos numa cela de passagem da PF localizada no aeroporto de Brasília, onde passaram a noite.

Além de Elias Santos, Suelen e Delgatti Neto, o quarto preso é Danilo Cristiano Marques, segundo confirmaram à Folha pessoas com acesso à investigação.

Todos são naturais de Araraquara (SP), mas viviam ultimamente em cidades diferentes. Segundo a PF, os mandados de prisão foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Araraquara e Ribeirão Preto (SP).

Segundo o advogado de Elias Santos, na casa dele foram apreendidos objetos pessoais, celular e R$ 100 mil em dinheiro proveniente de negócios com bitcoins.

Questionado se eu cliente tem alguma vinculação ou simpatia partidária, Ariovaldo respondeu. “Ele [Santos] me disse: ‘Rapaz, eu detesto isso’”. O advogado disse que seu cliente já foi a uma passeata de Bolsonaro e a filmou com um drone. Mas afirmou que ele não é apoiador do presidente.

O defensor do casal se queixou que eles demoraram a ter autorização para ligar para a defesa e viajaram de São Paulo a Brasília algemados.

“[Elias Santos] tentou falar comigo a todo o tempo, da casa dele até a PF de São Paulo, e a todo momento: ‘cala a boca, você aqui não tem direito a nada’. Foi essa frase que ele me falou”, disse o advogado Moreira.

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O site The Intercept Brasil divulgou diálogos que mostram que Sergio Moro (dir) e Deltan Dallagnol (esq) discutiam processos em andamento e comentavam pedidos feitos à Justiça pelo Ministério Público Federal enquanto integravam a força-tarefa da Lava Jato.

A Folha apurou que a PF chegou aos suspeitos por meio da perícia criminal federal que conseguiu rastrear os sinais do ataque aos telefones. Para investigadores, o grau de capacidade técnica dos hackers não era alto.

A investigação, segundo a reportagem apurou, ainda não conseguiu estabelecer com exatidão se o grupo investigado em São Paulo tem ligação com o pacote de mensagens privadas dos procuradores da Lava Jato obtido pelo site The Intercept Brasil.

O inquérito em curso foi aberto em Brasília para apurar, inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), do juiz federal no Rio Flávio Lucas e dos delegados da PF em São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis.

Segundo investigadores, a apuração mostrou que o celular de Deltan Dallagnol também foi alvo do grupo. O caso de autoridades da Lava Jato em Curitiba está sendo tratado em inquérito aberto pela Polícia Federal no Paraná.

Mensagens reveladas pelo site Intercept em 9 de junho apontam colaboração entre o então juiz e Deltan quando ambos atuavam em Curitiba. Em 23 de junho, a Folha começou a publicar reportagens que exploram o material obtido pelo site. ​

ENTENDA A OPERAÇÃO

Qual o resultado da operação da PF?
Nesta terça (23), quatro pessoas foram presas sob suspeita de hackear telefones de autoridades, incluindo Moro e Deltan. Foram cumpridas 11 ordens judiciais, das quais 7 de busca e apreensão e 4 de prisão temporária nas cidades de São Paulo, Araraquara (SP) e Ribeirão Preto (SP). Os quatro presos foram transferidos para Brasília, onde prestariam depoimento à PF.

As prisões têm relação com as mensagens trocadas entre Moro e procuradores da Lava Jato divulgadas desde junho pelo site The Intercept Brasil?
A investigação ainda não conseguiu estabelecer com exatidão se o grupo sob investigação em São Paulo tem ligação com o pacote de mensagens. Também não há provas de que os diálogos, enviados ao Intercept por fonte anônima, foram obtidos a partir de ataque hacker.

Como a investigação começou?
O inquérito em curso foi aberto em Brasília para apurar, inicialmente, o ataque a aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), do juiz federal no Rio Flávio Lucas e dos delegados da PF em São Paulo Rafael Fernandes e Flávio Reis. Segundo investigadores, a apuração mostrou que o celular de Deltan também foi alvo do grupo.

Quando Moro foi hackeado?
Segundo o ministro afirmou ao Senado, em 4 de junho, por volta das 18h, seu próprio número lhe telefonou três vezes. Segundo a Polícia Federal, os invasores não roubaram dados do aparelho. De acordo com o Intercept, não há ligação entre as mensagens e o ataque, visto que o pacote de conversas já estava com o site quando ocorreu a invasão.

Fonte: Folha de São Paulo